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Infiel

Infiel

medos vs adrenalina - Parte I

26
Ago07

 

 

 

Tenho andado ocupada, tentando fazer coisas diferentes, desafiar o quotidiano

 

Tomei consciência que tenho acumulado medos ao longo da vida mas que não quero que eles comandem minha vida

Afinal eu sou aquela que deve comandar a maneira de encarar a vida e as sensações do meu corpo!!!

Mais uma vez o destino me diz que era tempo de fechar um novo ciclo mas não sem esforço e sem a tomada de consciência do que estava errado

 

Tenho medo de alturas, de saltos e de aguas escuras

Sinto vertigens, pavor, terror

O nó no estomago, a garganta seca, o coração acelera, o suor invade a testa, tremor nas mãos e nas pernas... absoluto descontrole de meu corpo

Elevadores panorâmicos são uma tortura, escadas rolantes terror absoluto, elevar-me no ar para assentar os pés em aguas escuras.. absolutamente fora de questão

Não podia continuar a sentir-me assim mas...

 

Inscrevi-me numa agência de desporto radical, esperei que houvesse um grupo suficientemente grande para iniciar o combate.

Eram 12 pessoas e dois monitores. Idades entre os 17 e 46 anos, 60% do grupo nunca tinha feito rappel. Os monitores não estavam muito tranquilos mas todos estavamos predispostos a experimentar, a chegar ao fim!!!

 

Canyonning é descer um rio, desafiar as pedras, as rochas, a vegetação, descer o leito do rio, como parte dele.

 

Começamos por caminhar no topo da conduta de agua, num tunel que cada vez era mais baixo e escuro; claustrofobia não era um dos meus medos, por isso aquela primeira prova eu superei-a sem esforço; era-o para outros que a venceram mostrando a palidez do rosto e o tremor das mãos, á saida do tunel

Descemos a serra para chegar a uma primeira lagoa de aguas limpidas e quentes. Os fatos de 3mm protegiam a sensação de entrar na agua mas, mais tarde agradeceriam ele ser assim grosso e forte.

Com sol quente esperei a minha vez de descer a primeira parede, a primeira cascata.

 

Deitei-me na laje, observando os seus rostos, esperei controlando a respiração, eu tambem haveria de ter uma corda a suster o meu corpo, tambem haveria de ser a minha vez de dar um passo no espaço vazio

atras de mim ainda havia um jovem de 34 anos que mostrava a consciência do seu medo, ele tambem transpirava e bufava e passava as mãos na cara e nos cabelos, em nada contribuia o seu nervosismo para acalmar o meu. Mas ele e todos os outros tinha amigos, eu estava sozinha, não conhecia ninguem, ninguem me conhecia, ninguem sabia da minha luta interna e eu não o queria mostrar a ninguem!

 

"Menina agora tu" - era o monitor a chamar-me. Levantei-me lentamente, expirei todo o ar dos meus pulmões e inspirei todo o oxigenio do mundo

A corda era grossa, sustinha 3000kg, as estacas estavam bem fixas na rocha, o salto seria de 20 metros.

Virei-me de costas para o abismo, deixei que ele prende-se a corda ao mosquetão do meu arnês. Estava ainda presa á estaca da rocha.

 

Mas o pé recusava-se a recuar, as costas recusavam-se a deitarem-se para o vazio.

atrevi-me a olhar de soslaio onde iria assentar os pés e... havia nada!!

 

Os olhos deixaram de ver, meu estomâgo encolheu, a garganta secou totalmente, o coração batia forte como querendo fugir comigo dali pra fora!!! Tudo deixou de ser visivel á minha volta.

 

Queria mesmo era ficar naquela lagoa quente á espera do resto do grupo. Ninguem me conhecia para exigirem explicações, para me apontarem como cobarde ou para sorrirem e me darem força para continuar.

Estava só eu comigo mesma e aquela lagoa era muito mais atraente que todo o resto do rio.

 

O monitor olhava-me e disse:

"Tens medo!?"

"Não!" - respondi

"Podes sempre ficar aqui, á espera, mas se desceres agora já não podes voltar para trás!"

 

"Tens medo? - perguntou o amigo do outro que ainda tremia mais que eu

"Sim tenho medo!" respondi ao mesmo tempo que pensava: mas tenho medo de quê? se acredito que nada se passa sem razões, se não tenho medo de morrer; sim tenho medo mas medo de quê? Atrevi-me a virar a cara para a direita, para baixo, a olhar de novo para a parede e a controlar o desfoque da retina, a secura da garganta; era mais facil tirar a corda e nadar na lagoa de aguas tranparentes, o resto do grupo que descesse o leito do rio!!!

 

 

 

 

.

 

 Em baixo, algures, o resto do grupo esperava que eu me decidisse, que eu avançasse ou recuasse.

 

 

 

 

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