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Infiel

Infiel

medos vs adrenalina - Parte II

27
Ago07

 

 

 

- Mas afinal tenho medo de quê??? controlo ou não controlo as minhas sensações??? tinha passado tanto tempo a desejar enfrentar os meus medos para.... perder!!! para ficar na lagoa???  No way!!!!!

 

Atrevi-me a olhar uma terceira vez  mas para procurar um local para apoiar os pés e... comecei a descer a parede!!!!

 

Confesso que foram passos muito arrastados mas... quando comecei a sentir a brisa, a sensação de estar a meio da cascata, suspensa no ar, controlando a velocidade de descida, gritei, mas gritei de alegria, ria-me do meu ex-medo!!! Venci!!! o primeiro rappel pelo menos!! lol

 

Fui recebida com muita alegria por todo o grupo, o que me deu muita força para continuar (também ja não podia voltar para trás!!! lol) Olhei para cima. Bolas eu tinha descido aquela parede!!!

 

 

 

 

 

Nadei naquela segunda fantastica lagoa e fui a primeira a querer fazer o rappel na segunda cascata!!! e esta de 35 metros!!!

 

Uma parede de 35 m de altura coberta de agua que salpicava forte. Como tinha feito na primeira, parei a meio para a sentir em todo o corpo, tocar aquela força e molhar a garganta hihihi Ali só podia contar comigo, dependia de mim descer, dependia de mim continuar.

 

Valeu a pena descer aquela segunda cascata, a lagoa era ainda mais espectacular

 

 

 

 

Mas ainda tinha medos para vencer!!!

 

e o ultimo rappel não estava nos meus planos!!!

 

Era uma parede com 25 metros mas separado por um mini lago de aguas turbulentas, daí continuava com uma parede totalmente vertical que, terminava numa lagoa profunda que parecia dentro de uma gruta. quero dizer: águas mais escuras que aquilo brrr, era obrigada a descer para dentro daquela agua e, cruzar todo o lago, se queria sair dali

 

As 3 paredes e a vegetação tapavam a luz do sol, o monitor dizia que as aguas eram profundas, muito profundas, que quem queria podia saltar do mini lago

 

Tou tramada!! É aqui que eu fico!!!

 

Observei os 3 primeiros, a dificuldade em se equilibrarem no mini-lago e tornarem a se erguer para passar ao patamar da cascata propriamente dita.

Não tinha muitas opções, aliás não tinha opções!!!

não queria ficar ali!!!

 

De novo a corda no mosquetão, escutar os conselhos do monitor, não esquecer de nunca tirar a mão direita da corda.

 

Fiz a primeira parte, consegui apoiar os pés para a segunda descida.

Mas a meio da parede, a cascata era demasiado pesada. a agua entrava nos olhos, empurrava-me, desafiava-me, não conseguia respirar, sufocava debaixo da agua, apoiei os pés na parede, atirei as costas para trás e ... larguei a corda!!!

 

 

Caí naquela agua gelida, mesmo com a protecção do fato dava para a sentir, mergulhei eternamente para subir sem conseguir controlar a respiração, a corda tinha-se enrolado numa perna e como estava molhada não corria no oito

 

ainda sufocava e a corda puxava-me e tinha de me libertar e tinha de respirar e tinha de sair dali sentia o coração a bater forte, não conseguia controlar a respiração

 

em meu auxilio veio o monitor, conseguiu abrir o meu mosquetão e libertar-me da corda

 

Nadei com todas as forças que consegui reunir, sem querer pensar que estava em aguas escuras e que o lago era enorme

quando cheguei á margem gatinhei para uma rocha ao sol

estava ofegante

tremia de medo, de frio, de cansaço

 

Mas disposta a voltar a fazer tudo de novo!!!!

 

 

Canyonnig no rio Teixeira, dois dias para recordar, local magico, encontro de amizade, de união, desporto radical para emoções fortes e gente de coragem, encontro com a Natureza, encontro com o nosso EU.

 

Adorei!!!

 

 

 

medos vs adrenalina - Parte I

26
Ago07

 

 

 

Tenho andado ocupada, tentando fazer coisas diferentes, desafiar o quotidiano

 

Tomei consciência que tenho acumulado medos ao longo da vida mas que não quero que eles comandem minha vida

Afinal eu sou aquela que deve comandar a maneira de encarar a vida e as sensações do meu corpo!!!

Mais uma vez o destino me diz que era tempo de fechar um novo ciclo mas não sem esforço e sem a tomada de consciência do que estava errado

 

Tenho medo de alturas, de saltos e de aguas escuras

Sinto vertigens, pavor, terror

O nó no estomago, a garganta seca, o coração acelera, o suor invade a testa, tremor nas mãos e nas pernas... absoluto descontrole de meu corpo

Elevadores panorâmicos são uma tortura, escadas rolantes terror absoluto, elevar-me no ar para assentar os pés em aguas escuras.. absolutamente fora de questão

Não podia continuar a sentir-me assim mas...

 

Inscrevi-me numa agência de desporto radical, esperei que houvesse um grupo suficientemente grande para iniciar o combate.

Eram 12 pessoas e dois monitores. Idades entre os 17 e 46 anos, 60% do grupo nunca tinha feito rappel. Os monitores não estavam muito tranquilos mas todos estavamos predispostos a experimentar, a chegar ao fim!!!

 

Canyonning é descer um rio, desafiar as pedras, as rochas, a vegetação, descer o leito do rio, como parte dele.

 

Começamos por caminhar no topo da conduta de agua, num tunel que cada vez era mais baixo e escuro; claustrofobia não era um dos meus medos, por isso aquela primeira prova eu superei-a sem esforço; era-o para outros que a venceram mostrando a palidez do rosto e o tremor das mãos, á saida do tunel

Descemos a serra para chegar a uma primeira lagoa de aguas limpidas e quentes. Os fatos de 3mm protegiam a sensação de entrar na agua mas, mais tarde agradeceriam ele ser assim grosso e forte.

Com sol quente esperei a minha vez de descer a primeira parede, a primeira cascata.

 

Deitei-me na laje, observando os seus rostos, esperei controlando a respiração, eu tambem haveria de ter uma corda a suster o meu corpo, tambem haveria de ser a minha vez de dar um passo no espaço vazio

atras de mim ainda havia um jovem de 34 anos que mostrava a consciência do seu medo, ele tambem transpirava e bufava e passava as mãos na cara e nos cabelos, em nada contribuia o seu nervosismo para acalmar o meu. Mas ele e todos os outros tinha amigos, eu estava sozinha, não conhecia ninguem, ninguem me conhecia, ninguem sabia da minha luta interna e eu não o queria mostrar a ninguem!

 

"Menina agora tu" - era o monitor a chamar-me. Levantei-me lentamente, expirei todo o ar dos meus pulmões e inspirei todo o oxigenio do mundo

A corda era grossa, sustinha 3000kg, as estacas estavam bem fixas na rocha, o salto seria de 20 metros.

Virei-me de costas para o abismo, deixei que ele prende-se a corda ao mosquetão do meu arnês. Estava ainda presa á estaca da rocha.

 

Mas o pé recusava-se a recuar, as costas recusavam-se a deitarem-se para o vazio.

atrevi-me a olhar de soslaio onde iria assentar os pés e... havia nada!!

 

Os olhos deixaram de ver, meu estomâgo encolheu, a garganta secou totalmente, o coração batia forte como querendo fugir comigo dali pra fora!!! Tudo deixou de ser visivel á minha volta.

 

Queria mesmo era ficar naquela lagoa quente á espera do resto do grupo. Ninguem me conhecia para exigirem explicações, para me apontarem como cobarde ou para sorrirem e me darem força para continuar.

Estava só eu comigo mesma e aquela lagoa era muito mais atraente que todo o resto do rio.

 

O monitor olhava-me e disse:

"Tens medo!?"

"Não!" - respondi

"Podes sempre ficar aqui, á espera, mas se desceres agora já não podes voltar para trás!"

 

"Tens medo? - perguntou o amigo do outro que ainda tremia mais que eu

"Sim tenho medo!" respondi ao mesmo tempo que pensava: mas tenho medo de quê? se acredito que nada se passa sem razões, se não tenho medo de morrer; sim tenho medo mas medo de quê? Atrevi-me a virar a cara para a direita, para baixo, a olhar de novo para a parede e a controlar o desfoque da retina, a secura da garganta; era mais facil tirar a corda e nadar na lagoa de aguas tranparentes, o resto do grupo que descesse o leito do rio!!!

 

 

 

 

.

 

 Em baixo, algures, o resto do grupo esperava que eu me decidisse, que eu avançasse ou recuasse.