"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu."
retirado daqui
P.S. e hoje sinto-me como ele se sentiu ha 82 anos
" Sucesso é conseguir o que se quer
Felicidade é aproveitar o que se conseguiu"
"Você pode conseguir quase tudo que quiser,
desde que esteja disposto a pagar o preço
O preço do dinheiro é o trabalho
O preço do sucesso é a dedicação
O preço da sabedoria é a reflexão
O preço da liberdade é a responsabilidade
O preço da amizade é o companheirismo
O preço do sexo é amor
O preço do amor é doação"
Regras para encontrar um amor:
- nunca ter sexo no primeiro encontro
os homens sempre desconfiarão de uma mulher que não resiste á primeira investida
e não a considerarão como futura companheira, eles têm necessidade de persseguir a presa
um longo cortejamento é o preço a pagar para construir uma relação estavel e duradora
- nunca falar de ex-relacionamentos
todos detestam serem comparados ou escutar maravilhas ou vulgaridades de desconhecidos/as que partilharam o corpo de quem ainda não conhecemos
- discutir ideias em vez de falar sobre pessoas
distinguem-se os inteligentes dos mediocres
Mas porque havemos de andar tão preocupadas em encontrar um amor se este surge quando menos esperamos.......................
e o importante é aproveitar a ocasião, o momento e fazer o que sentimos que devemos fazer
se tudo tem um preço
pagaremos pelas nossas atitudes e de nada servirá seguir regras
- quanto custa o teu abraço????
Quem já perdeu tantos amigos como eu, tem medo de não aproveitar o melhor que cada segundo da vida nos proporciona
O meu melhor amigo, foi meu confidente e conselheiro
a única pessoa de quem escutei conselhos.
Conheci-o como meu chefe, era o meu mentor, protector
Era casado e tinha 6 filhos, adorava a sua grande familia, eu era mais uma filha
Durante 15 anos acompanhou a minha vida profissional e emocional
Chorei no seu ombro, chorou no meu
ri-me das suas parvoíces, riu-se das minhas
contava-me as suas escapadelas, contava-lhe os meus desgostos
Uma manhã recebo um telefonema de uma filha
tinha adormecido no seu sofa favorito
embolia cerebral fatal
em vez de estar a almoçar com ele,
como tinhamos combinado 3 dias antes
estava a beijar sua testa fria
- O meu outro melhor amigo
foi meu prof na faculdade
era a sua melhor aluna
a sua disciplina a minha favorita
Depois de terminar o curso
continuamos a nos encontrar
a discutir Arte e Musica e Esoterismo e um milhão de coisas mais
Foi a pessoa mais inteligente que conheci
Tinha grande admiração por ele
a nossa amizade sobreviveu a dois divorcios
e a muitas contrariedades
Frequentemente o visitava ou saíamos
recordo muitas loucuras noctívagas
além de homem culto era um boémio
Tudo o que conheço da vida nocturna da capital o devo a ele
Quando não nos encontravamos, telefonava
punhamos a rotina em dia e prometiamos mais uma saida
tal como aconteceu numa noite sem lua
No dia seguinte recebo um telefonema da namorada
Ele tinha adormecido na sua cama
Ataque cardíaco fulminante
Na noite em que deviamos estar a correr os novos estaminés da cidade
molhava sua barba com as minhas lagrimas
- Minha mãe foi a uma consulta de rotina e não voltou
- Minha amiga de infãncia partilhou um gelado no jardim
e nunca mais a vi...........................
A coisa mais certa da vida é a Morte
Depois de ter perdido tantos amigos não quero perder um segundo sem ti
O tempo arrasta-se e jamais se recupera
Já perdi tanta coisa
tenho tanto medo de te perder sem nunca te ter tido
Porque me despertas se não tens intenções de me saciar?
"Na vida todos temos
*
*
um segredo inconfessável,
*
*
um arrependimento irreversível,
*
*
um sonho inalcançável
*
*
e
*
*
um amor inesquecível"
- Diego Marchi
- O meu primeiro macho foi um Pastor Alemão todo negro
por isso diziam que era um Lobo da Alsacia
Em adulto pesava 59kg
Ele era de uma vizinha, vivia amarrado á casota
um dia o filho dela, veio mostrar-me um bicho de 6 meses, bolinha de pelo negro
"Cuidado ele é muito mau, a minha mãe tem de lhe dar com a vassoura, para ele obedecer!"
Olhei aquela bolinha, baixei-me e dei-lhe as minhas mãos para ele as cheirar,
deixei de escutar os avisos sobre ele morder....
os olhos eram de um castanho escuro brilhante
eu via um sorriso neles
Foi amor á primeira vista
Fiquei com ele
Eu era o seu mundo
Nunca usei trela mas sempre me seguia, mentira, sempre me acompanhava
era a minha sombra, o meu melhor amigo
Escusado será dizer que ele não admitia ninguem ao meu lado
Nos encontros de cafe, á minha volta havia um espaço de 2 metros
aos meus pés um 'monstro' negro
Eu tinha 16 anos
Morreu 2 anos depois com leishmaniose (transmitido pela picada de um mosquito)
- Já casada, o marido trouxe uma coisa negra com 15 dias
era orfão, fruto de um cruzamento de raças não identificadas
Alimentei-o a biberão
Todas as noites esperava que eu me deitasse,
vinha junto a mim,
lambia-me as mãos e enroscava-se aos meus pés, no chão.
Sabia contar até 3
Morreu com 6 meses atropelado numa tarde de Outono
- Para minimizar o desgosto ofereceram-me um Setter Gordon,
cachorro patético, desengonçado
que se transformou num cão magnifico,
Belo, inteligente como nenhum outro
Tinha este 6 meses de idade, retirei um Pastor Alemão de um pseudo-dono,
este também com 6 meses
- O novo Pastor Alemão, o #2, vinha com uma perna partida e com esgana
Dois anos depois, totalmente recuperado
numa ida ao pinhal,
em vez de subir para o jeep
abraça-me e... desaparece na noite
- Para fazer companhia ao Setter e á dona melancólica
comprei outro Pastor Alemão, o # 3,
Com 4 meses mandei-o capar!!!
- O Setter morreu com 13 anos (um mês depois de o ter deixado com o ex),
de saudades !!???
- O Pastor foi assassinado um ano depois,
por um idiota que dizia que cão velho comia muito.......
e deu-lhe um tiro na cabeça
Pesava 50kg e nunca aceitou comida de outra mão senão a minha!
- Quando re-organizei a minha vida,
comprei outro Pastor Alemão, o # 4
Para lhe fazer companhia,
porque a minha vida profissional obrigava-me a muitas horas fora de casa,
- Comprei outro Pastor Alemão, o # 5, mas cruzado com Husky
Aos 4 meses mandei-o castrar
foto de um dos meus fieis Pastores Alemães
- Ter dois machos no mesmo canil dá problemas
quando as cadelas estão com cio,
eles sentem e uivam e deixam de comer e... lutam entre si
Ora um cão sente o cheiro da cadela a muitos kilometros de distância
Para evitar lutas, para evitar a frustração do macho,
para evitar que outro cão me abandonasse para ir procurar cadela.
a solução é castrar um deles
Desta vez dei-me mal
porque o capado é muito mais vadio que o outro
pelo cruzamento de raças, é menos obediente é mais traquinas, mais libertino
Se não o tivesse castrado além de ter um montão de "netinhos" por aí
ainda maltrataria o mais velho
porque é um bicho super meigo mas muito territorial
Enquanto que o mais velho é tranquilo, obediente, inteligente, belo
e todos os adjectivos inerentes á raça lhe são bem aplicados
o mais novo... bem
só me dá preocupações ou talvez nem tanto (como já referi anteriormente) ..........
Mas quando saio com ambos pela trela...
faço um vistaço hihihi
Escolher o que vestir é sempre um trilema para qualquer mulher.
Mas, saber qual o objectivo a que nos propomos, facilita a decisão!!!
Confirmei o nº da porta, sim ainda me recordava do andar
Premi o botão da campainha.
O seu sorriso estava igual.
os seus olhos redescobriam o corpo á sua frente,
as mãos indecisas sobre o que fazer,
Avançou um passo.
o abraço foi inconsciente, forte, doce, preciso
os seus labios quentes
o suspiro de felicidade
Cheirava a alhos, a manteiga, carne...
uhmm fez a sua especialidade... para mim!!
Da sala a luz bruxuleante de velas pediam para avançar
a musica era... a minha favorita ('não se esqueceu do que gosto!')
A decoração era a mesma, o saxofone sobre o sofa
'irias tocar de novo... para mim???'
'necessito que toques??? Quero que toques???
- Continua a chamar de tentação a todas as mulheres que conheces,
continua a foder a legitima e/ou a quem te aparece.....
continua com as tuas birrinhas de 'eu quero'
Sou tua enquanto me quiseres mas.... não me queres só a mim e
eu também tenho as minhas tentações!!!
Não te sou nada, nem tua amante me consideras, não é??!!!!
Embrenhada nos meus pensamentos nem me apercebi da tenue luz que vinha do quarto.
Quando abro o portão, tento coordenar o pensamento e acreditar que o volume escuro parado á minha porta era ....... o seu corcel.
O motor estava frio.
Mil perguntas revoltavam-se no pensamento, perguntas que jamais faria.
Quem quer escutar mentiras, faz perguntas, essa eu tinha aprendido há muitos anos.
Entro, tentando controlar meu coração que queria saltar do peito, o endurecer dos mamilos, o humido que surgira entre as minhas pernas. que tem este homem que basta pensar nele e, altera todo meu corpo!!!???
Não ha ruidos, a suave luz de uma vela indica que estás no quarto.
Espreito. Sorrio. A visão do teu corpo aumenta o estado do meu.
a tua respiração é suave
Deixo-me ficar a olhar para ti, escutar tua respiração, ver-te,
perscruto teu corpo com meu olhar.
Dispo-me e subo para cima de ti. roço o meu corpo no teu, suavemente
Despertas devagar e parece-me sentir um sorriso
com uma mão apalpas-me a perna e deixo-me escorregar para o teu lado
Puxas-me para debaixo de ti
abraças-me e beijas-me o pescoço
afundo-me no teu corpo
"Surpresa" - sussurras ao meu ouvido
"Adoro surpresas" - passo a mão no teu cabelo, nas tuas costas, no teu rabo
uhm como adoro esse rabo...
quero acreditar que estás aqui
minha perna entre as tuas
senti o teu desejo
tu sentes o meu
Elevas-te um pouco para possuires meu corpo
Desejo-te tanto
desejas-me tanto
O tempo não apagou o nosso desejo
Os corpos encaixam-se perfeitamente
com o mesmo ritmo
com o mesmo querer
buscam-se
saceiam-se
Desperto sentindo teu cheiro mas .... não estás!
- Mas afinal tenho medo de quê??? controlo ou não controlo as minhas sensações??? tinha passado tanto tempo a desejar enfrentar os meus medos para.... perder!!! para ficar na lagoa??? No way!!!!!
Atrevi-me a olhar uma terceira vez mas para procurar um local para apoiar os pés e... comecei a descer a parede!!!!
Confesso que foram passos muito arrastados mas... quando comecei a sentir a brisa, a sensação de estar a meio da cascata, suspensa no ar, controlando a velocidade de descida, gritei, mas gritei de alegria, ria-me do meu ex-medo!!! Venci!!! o primeiro rappel pelo menos!! lol
Fui recebida com muita alegria por todo o grupo, o que me deu muita força para continuar (também ja não podia voltar para trás!!! lol) Olhei para cima. Bolas eu tinha descido aquela parede!!!
Nadei naquela segunda fantastica lagoa e fui a primeira a querer fazer o rappel na segunda cascata!!! e esta de 35 metros!!!
Uma parede de 35 m de altura coberta de agua que salpicava forte. Como tinha feito na primeira, parei a meio para a sentir em todo o corpo, tocar aquela força e molhar a garganta hihihi Ali só podia contar comigo, dependia de mim descer, dependia de mim continuar.
Valeu a pena descer aquela segunda cascata, a lagoa era ainda mais espectacular
Mas ainda tinha medos para vencer!!!
e o ultimo rappel não estava nos meus planos!!!
Era uma parede com 25 metros mas separado por um mini lago de aguas turbulentas, daí continuava com uma parede totalmente vertical que, terminava numa lagoa profunda que parecia dentro de uma gruta. quero dizer: águas mais escuras que aquilo brrr, era obrigada a descer para dentro daquela agua e, cruzar todo o lago, se queria sair dali
As 3 paredes e a vegetação tapavam a luz do sol, o monitor dizia que as aguas eram profundas, muito profundas, que quem queria podia saltar do mini lago
Tou tramada!! É aqui que eu fico!!!
Observei os 3 primeiros, a dificuldade em se equilibrarem no mini-lago e tornarem a se erguer para passar ao patamar da cascata propriamente dita.
Não tinha muitas opções, aliás não tinha opções!!!
não queria ficar ali!!!
De novo a corda no mosquetão, escutar os conselhos do monitor, não esquecer de nunca tirar a mão direita da corda.
Fiz a primeira parte, consegui apoiar os pés para a segunda descida.
Mas a meio da parede, a cascata era demasiado pesada. a agua entrava nos olhos, empurrava-me, desafiava-me, não conseguia respirar, sufocava debaixo da agua, apoiei os pés na parede, atirei as costas para trás e ... larguei a corda!!!
Caí naquela agua gelida, mesmo com a protecção do fato dava para a sentir, mergulhei eternamente para subir sem conseguir controlar a respiração, a corda tinha-se enrolado numa perna e como estava molhada não corria no oito
ainda sufocava e a corda puxava-me e tinha de me libertar e tinha de respirar e tinha de sair dali sentia o coração a bater forte, não conseguia controlar a respiração
em meu auxilio veio o monitor, conseguiu abrir o meu mosquetão e libertar-me da corda
Nadei com todas as forças que consegui reunir, sem querer pensar que estava em aguas escuras e que o lago era enorme
quando cheguei á margem gatinhei para uma rocha ao sol
estava ofegante
tremia de medo, de frio, de cansaço
Mas disposta a voltar a fazer tudo de novo!!!!
Canyonnig no rio Teixeira, dois dias para recordar, local magico, encontro de amizade, de união, desporto radical para emoções fortes e gente de coragem, encontro com a Natureza, encontro com o nosso EU.
Adorei!!!
Tenho andado ocupada, tentando fazer coisas diferentes, desafiar o quotidiano
Tomei consciência que tenho acumulado medos ao longo da vida mas que não quero que eles comandem minha vida
Afinal eu sou aquela que deve comandar a maneira de encarar a vida e as sensações do meu corpo!!!
Mais uma vez o destino me diz que era tempo de fechar um novo ciclo mas não sem esforço e sem a tomada de consciência do que estava errado
Tenho medo de alturas, de saltos e de aguas escuras
Sinto vertigens, pavor, terror
O nó no estomago, a garganta seca, o coração acelera, o suor invade a testa, tremor nas mãos e nas pernas... absoluto descontrole de meu corpo
Elevadores panorâmicos são uma tortura, escadas rolantes terror absoluto, elevar-me no ar para assentar os pés em aguas escuras.. absolutamente fora de questão
Não podia continuar a sentir-me assim mas...
Inscrevi-me numa agência de desporto radical, esperei que houvesse um grupo suficientemente grande para iniciar o combate.
Eram 12 pessoas e dois monitores. Idades entre os 17 e 46 anos, 60% do grupo nunca tinha feito rappel. Os monitores não estavam muito tranquilos mas todos estavamos predispostos a experimentar, a chegar ao fim!!!
Canyonning é descer um rio, desafiar as pedras, as rochas, a vegetação, descer o leito do rio, como parte dele.
Começamos por caminhar no topo da conduta de agua, num tunel que cada vez era mais baixo e escuro; claustrofobia não era um dos meus medos, por isso aquela primeira prova eu superei-a sem esforço; era-o para outros que a venceram mostrando a palidez do rosto e o tremor das mãos, á saida do tunel
Descemos a serra para chegar a uma primeira lagoa de aguas limpidas e quentes. Os fatos de 3mm protegiam a sensação de entrar na agua mas, mais tarde agradeceriam ele ser assim grosso e forte.
Com sol quente esperei a minha vez de descer a primeira parede, a primeira cascata.
Deitei-me na laje, observando os seus rostos, esperei controlando a respiração, eu tambem haveria de ter uma corda a suster o meu corpo, tambem haveria de ser a minha vez de dar um passo no espaço vazio
atras de mim ainda havia um jovem de 34 anos que mostrava a consciência do seu medo, ele tambem transpirava e bufava e passava as mãos na cara e nos cabelos, em nada contribuia o seu nervosismo para acalmar o meu. Mas ele e todos os outros tinha amigos, eu estava sozinha, não conhecia ninguem, ninguem me conhecia, ninguem sabia da minha luta interna e eu não o queria mostrar a ninguem!
"Menina agora tu" - era o monitor a chamar-me. Levantei-me lentamente, expirei todo o ar dos meus pulmões e inspirei todo o oxigenio do mundo
A corda era grossa, sustinha 3000kg, as estacas estavam bem fixas na rocha, o salto seria de 20 metros.
Virei-me de costas para o abismo, deixei que ele prende-se a corda ao mosquetão do meu arnês. Estava ainda presa á estaca da rocha.
Mas o pé recusava-se a recuar, as costas recusavam-se a deitarem-se para o vazio.
atrevi-me a olhar de soslaio onde iria assentar os pés e... havia nada!!
Os olhos deixaram de ver, meu estomâgo encolheu, a garganta secou totalmente, o coração batia forte como querendo fugir comigo dali pra fora!!! Tudo deixou de ser visivel á minha volta.
Queria mesmo era ficar naquela lagoa quente á espera do resto do grupo. Ninguem me conhecia para exigirem explicações, para me apontarem como cobarde ou para sorrirem e me darem força para continuar.
Estava só eu comigo mesma e aquela lagoa era muito mais atraente que todo o resto do rio.
O monitor olhava-me e disse:
"Tens medo!?"
"Não!" - respondi
"Podes sempre ficar aqui, á espera, mas se desceres agora já não podes voltar para trás!"
"Tens medo? - perguntou o amigo do outro que ainda tremia mais que eu
"Sim tenho medo!" respondi ao mesmo tempo que pensava: mas tenho medo de quê? se acredito que nada se passa sem razões, se não tenho medo de morrer; sim tenho medo mas medo de quê? Atrevi-me a virar a cara para a direita, para baixo, a olhar de novo para a parede e a controlar o desfoque da retina, a secura da garganta; era mais facil tirar a corda e nadar na lagoa de aguas tranparentes, o resto do grupo que descesse o leito do rio!!!
.
Em baixo, algures, o resto do grupo esperava que eu me decidisse, que eu avançasse ou recuasse.
o meu livro:
:)
Amigos de
outros universos
outros olhares